O que pode causar uma enxaqueca?

Introdução

A enxaqueca é uma das causas principais de incapacidade a nível global, afetando aproximadamente 2 milhões de portugueses (DGS, 2022). Apesar da sua frequência, muitas pessoas não compreendem bem quais os fatores que desencadeiam as crises. Neste artigo explico-lhe o que causa a enxaqueca, desde fatores genéticos a desencadeantes ambientais e hormonais. Com a compreensão correta dos desencadeantes e prevenção específica, é possível reduzir a frequência e intensidade das crises e melhorar a qualidade de vida.
Profissional de saúde mostra modelo anatómico do cérebro a mulher que segura a cabeça em dor, com enxaqueca

Causas da enxaqueca: genes e ambiente

Predisposição genética e mecanismos neurológicos

A enxaqueca tem uma componente genética forte. Pessoas com familiares próximos que sofrem desta condição têm maior probabilidade de também a desenvolver. Na sua origem, a enxaqueca envolve uma hiperexcitabilidade cerebral, em que os neurónios se tornam excessivamente sensíveis e reagem exageradamente a estímulos normais. Isto desencadeia uma libertação de substâncias químicas como o CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina), que provoca  dilatação dos vasos sanguíneos e surge então a dor pulsátil característica das crises de enxaqueca.

Fatores fisiológicos internos

Mudanças internas como oscilações nas hormonais, especialmente nas mulheres relacionadas ao ciclo menstrual, gravidez e menopausa, são importantes desencadeantes de crises de enxaqueca. Além disso, o jejum prolongado, alterações nos níveis de açúcar no sangue e flutuações da pressão arterial podem em alguns casos precipitar as crises.

Principais gatilhos e desencadeantes extrínsecos

Alimentação e jejum

Alimentos como álcool (especialmente vinho tinto), chocolate, café, queijos curados e produtos alimentares com aditivos químicos podem ser  desencadeantes de crises para várias pessoas, embora não o sejam em todas as pessoas. Evitar períodos longos sem comer também é muito importante, pois o jejum prolongado pode desencadear crises.

Padrões de sono

Mudanças bruscas ou irregulares no sono, como noites mal dormidas, trocar os horários de ir dormir ou acordar, ou dormir mais horas que o habitual aos fins de semana, são desencadeantes comuns devido às alterações no ritmo circadiano, que é o relógio interno do corpo.

Stress e emoções

Stress prolongado ou a sensação de relaxamento após períodos de alta tensão emocional são frequentemente relatados como fatores desencadeantes das crises de enxaqueca.

Estímulos sensoriais e ambientais

Luzes brilhantes, ruídos intensos e odores fortes, tais como perfumes ou fumo de tabaco, podem ser particularmente problemáticos para pessoas predispostas a enxaqueca e levar ao aparecimento de uma crise.

Silhueta de cabeça com nervo trigémio iluminado e ícones de luz forte, som alto, perfume e fumo, representando gatilhos sensoriais de enxaqueca.
As crises de enxaqueca podem ser desencadeadas por estímulos sensoriais como luz forte, som alto, perfumes ou fumo de tabaco.

Fatores hormonais e enxaqueca nas mulheres

Menstruação

A diminuição rápida dos níveis de estrogénio antes do período menstrual é um desencadeante hormonal conhecido. É frequente as mulheres que sofrem de enxaqueca reportarem terem crises relacionadas com a menstruação.

Gravidez e menopausa

Durante a gravidez, especialmente no segundo e terceiro trimestres, a maioria das mulheres relatam uma redução na frequência das crises devido à estabilidade hormonal. No início da menopausa pode ocorrer um aumento das crises devido às oscilações hormonais.

Pílula anticoncecional

Algumas pílulas contracetivas hormonais, especialmente as combinadas, podem agravar as crises em mulheres com enxaqueca com aura. Nestes casos, são recomendadas alternativas sem estrogénios para reduzir o risco vascular.

Comorbilidades: quando a enxaqueca não vem sozinha

Ansiedade, depressão e perturbações do sono

É comum a associação da enxaqueca com condições como ansiedade e depressão, bem como distúrbios do sono, como insónia e apneia do sono. Estas condições agravam o quadro clínico e podem tornar as crises mais frequentes e intensas.

Disfunção Temporomandibular (DTM)

Problemas na articulação da mandíbula (DTM), como dor ao mastigar ou estalos ao abrir a boca, podem desencadear crises de enxaqueca ou agravar crises já existentes. É importante abordar estas condições para reduzir a frequência das crises.

Fatores que agravam as crises de enxaqueca

Falta de rotina e irregularidade

O cérebro de quem sofre de enxaqueca tende a beneficiar de rotinas regulares. A falta de consistência nos horários de sono e das refeições pode ser um desencadeante de crises.

Abuso de medicação analgésica

O uso excessivo e frequente de analgésicos pode resultar na chamada cefaleia por uso excessivo de medicação, uma condição onde a própria medicação causa crises frequentes e persistentes de dor de cabeça.

Exposição digital prolongada

O uso contínuo e prolongado de dispositivos eletrónicos, especialmente com exposição à luz azul emitida pelos ecrãs, pode ser um fator adicional de agravamento das crises de enxaqueca.

Verdades e mitos sobre enxaqueca

“É apenas uma dor de cabeça” – Mito

A enxaqueca é uma condição neurológica complexa, que frequentemente inclui sintomas além da dor, como náuseas, vómitos, fotofobia e fonofobia.

“Chocolate provoca enxaqueca” – Depende

Embora para algumas pessoas o chocolate seja um desencadeante de crises, para muitas pessoas pode simplesmente representar um desejo que acontece na fase inicial de uma crise.

“Café é mau para enxaqueca” – Depende

Consumido regularmente e em quantidades moderadas, o café pode até ajudar a aliviar crises pontuais devido às suas propriedades vasoconstritoras. Contudo, o seu consumo irregular ou excessivo pode tornar-se um desencadeante de crises.

Dicas de prevenção e estilo de vida

Para ajudar a reduzir a frequência das crises, mantenha horários regulares de sono e das refeições, evite períodos longos sem comer, pratique exercício físico moderado regularmente, mantenha-se hidratado e procure gerir o stress com técnicas de relaxamento ou meditação. Se trabalhar com dispositivos eletrónicos, faça pausas regulares para descansar os olhos e reduzir a exposição à luz azul.

Diário da cefaleia e monitorização personalizada

Manter um diário das crises, anotando detalhes como hora, duração, intensidade, sintomas associados e possíveis desencadeantes da crise, pode ajudar a identificar padrões específicos e otimizar o tratamento preventivo. Aplicações móveis, como o Migraine Buddy, são ferramentas úteis que facilitam esse registo.

Tratamentos preventivos e quando procurar ajuda médica

Se as crises forem frequentes ou intensas, o neurologista poderá recomendar tratamentos preventivos específicos, como os anticorpos monoclonais anti-CGRP, os gepants ou a toxina botulínica, que demonstraram ser eficazes na redução significativa das crises.

Perguntas Frequentes (FAQs)

Quais são os principais gatilhos da enxaqueca?

Stress, alterações de sono, jejum, oscilações hormonais e estímulos sensoriais como luzes, cheiros ou ruídos intensos.

A enxaqueca pode ser hereditária?

Sim. Existe uma forte componente genética que predispõe à enxaqueca.

Como as hormonas influenciam nas crises de enxaqueca?

Mudanças nos níveis de estrogénio, como na menstruação ou menopausa, podem desencadear crises.

Qual a diferença entre enxaqueca e dor de cabeça comum?

A enxaqueca costuma provocar dor intensa, unilateral, acompanhada de náuseas e sensibilidade à luz e ao som.

O que fazer para prevenir as enxaquecas?

Identifique desencadeantes pessoais, mantenha um estilo de vida regular e, se necessário, siga tratamento preventivo indicado pelo neurologista.

Ideias Principais

  • A enxaqueca resulta da interação entre fatores genéticos e ambientais.
  • Identificar desencadeantes pessoais através de um diário de cefaleias é essencial.
  • Mudanças de estilo de vida e rotinas regulares ajudam a reduzir a frequência das crises.
  • Fatores hormonais têm especial relevância nas mulheres com enxaqueca.
  • Existem tratamentos preventivos modernos, como anticorpos anti-CGRP, gepants e toxina botulínica, que melhoram a qualidade de vida.

Conclusão

Compreender os fatores desencadeantes da enxaqueca e adotar estratégias personalizadas são fundamentais no tratamento da enxaqueca. Se as suas crises são frequentes ou incapacitantes, não hesite em agendar uma consulta. Através de uma abordagem personalizada e adequada ao seu caso, é possível melhorar significativamente a qualidade de vida.

Inês Brás Marques, Médica Neurologista.
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